A indagação sobre o que quer uma mulher feita por pelo mestre Freud (1900) permanece até os dias atuais como uma questão a ser resolvida por nós que ocupamos este lugar, o de mulher.
Deste lugar posso dizer que somos entrelaços de tantos eus. Um pouco isto e um pouco aquilo. Um desejo aqui, um desejo ali e outro acolá... Somos um feminino constituído nos entre lugares dos saberes, das emoções, das razões, dos fazeres e dos dizeres.
Para o grande mestre pai da psicanálise, este lugar, o do feminino, é um continente obscuro e complexo. O obscuro e complexo se vincula ao entre jogo de inúmeras formas de se fazer e de se dizer mulher. Para a época do surgimento da psicanálise, por volta do século XX, em Viena, esta versatilidade feminina encontrava suas formas de silenciar nas regras e nos valores sociais da cultura vigente e, normalmente, se convertia em sintomas orgânicos.
A bem da humanidade e das denuncias destas mordaças sociais que pesavam sobre as mulheres, inegavelmente, os estudos de Freud trouxeram grandiosos avanços quanto à importância do reconhecimento de que para tornar-se mulher, é necessário ascender à castração, uma vez que a anatomia do corpo não designa o destino, enquanto lugar do feminino ou do masculino. A feminilidade é resultante de operadores inconscientes sobre a triangulação edípica que conduzem à passagem para torna-se mulher.
Estamos no século XXI e ainda nos surpreendemos com algumas mordaças que silenciam a feminilidade de modo sutil e até mesmo bem visível para os não que desejam ver.
O silenciar a feminilidade passa pela negação do desejo. Inscreve-se também na contenção da palavra que invisibiliza o desejo e mantém o gozo aprisionado .
Enquanto feminina e mulher, somos uma indefinição que nos impulsiona para uma eterna procura e por isso desejamos, aqui e ali, incessantemente. Nada pode nos amordaçar, nos aprisionar, nos matar. Dito pelo reverso, tudo pode nos amordaçar, nos aprisionar, nos matar se não nos reconhecermos como sujeitos desejantes e desejosos.
Perguntamos a nós, mulheres da contemporaneidade: dentre tantas atividades que fazemos, tantos lugares que ocupamos, tantos vínculos que construímos dentre outros : Eles são perpassados pelos nossos desejos???