quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A dificuldade de viver em paz consigo e com os outros


Sabe aquelas conversas que surgem para passar o tempo quando estamos à espera de algo. Pois é pensamos assim, mas são nestas conversas, que a princípio achamos que são esvaziadas de algum sentido - para além de enganar o tempo que ficamos dedicados a esperar a nossa vez – é que surgem os sinais convidativos para refletir e decifrar os sentidos de situações que ocorreram em nossas vidas cuja compreensão ficou mal acabada.
A conversa iniciou  quando eu me encontrava em uma fila de banco e uma senhora que se estava na minha frente virou-se para mim e fez uma indagação  sobre o porquê é que existem pessoas que não aceitam viver em paz consigo e com os outros. Ela me disse que conhece gente assim e eu confirmei com um sinal feito com a cabeça o que ela dizia. A tônica de sua fala e a sua expressão transparecia que ela estava vivendo alguma situação que envolvia uma pessoa que não sabia viver em paz com ninguém ou quem sabe se tratava dela mesma. Nos cinco minutos que ela permaneceu na fila, antes de chegar a sua vez, a conversa que parecia mais um monólogo girou sobre fatos que ratificavam a sua resposta dada à sua indagação.
Permaneci na fila aguardando a minha vez e as palavras daquela senhora que aparentava ter mais de quarenta anos se misturavam aos meus pensamentos sobre a contabilidade dos pagamentos que faria
naquele instante. Ao sair do banco outras atividades ocuparam o meu tempo e aquele assunto se diluiu e deu lugar a outros de ordem prática.
A noite o assunto que eu dava como acabado voltou aos meus pensamentos. Como diria o mestre Freud se ele retornou é porque não estava acabado como imaginava, estava somente adormecido.
O sono deu lugar às reflexões sobre o que faz com que uma pessoa não saiba viver em paz.
Pensei que Viver em paz é se sentir feliz. É sentir que o caminho que traçou para a sua vida é importante porque o deixa motivado no dia-a-dia além contagiar as pessoas com aquela energia que expressa o estar de bem com a vida.
Ao contrário, não viver em paz é não estar motivado por nada na vida e é por isso se segue sem rumo, aos tropeços como se chutasse tudo a sua frente e a sua volta, as pessoas, o mundo e a si mesmo.
Pensei naquelas pessoas que fazem tudo para não se encontrarem, não se conhecerem. Elas se distanciam de si e portanto nada faz sentido, a vida é um tédio permanente e o desassossego em que se encontram é eterno. Não
se trata daquela inquietação gostosa que faz com a gente se sinta vivo e motivado. Mas sim uma dor que destrói tudo o que poderia trazer alegria. A dor da alma parece ser este o padecimento de quem não sabe viver em paz. Esta dor retira o sentido e o prazer de viver. Dai que a pessoa acometida desta dor se sente vazia, sem emoções, sem desejos, sem pensamentos que a orientem com sentido a sua vida.
Deve ser um grande sofrimento para quem sofre desta dor. Pois ver a vida passar e não poder aproveitá-la da melhor maneira possível  por não compreender que para se obter a paz e a felicidade é fundamental aprender a se amar e assim poder amar os outros. Para tanto a humildade é um dos componentes necessários para que possamos perceber o que falta em nossa vida para que ela nos impressione a tal ponto de nos fazer dedicar o nosso tempo para encontrar cada pedaço de nós.
No entanto a dor da alma faz com que a paz ceda lugar às tormentas e onde quer que a pessoa esteja ela causa desassossego na sua vida e na vida daquelas que convivem com ela.
Seja mãe, pai, filho, sogra, nora, neta, avó, avô, enteado.....assim como em outros papéis que extrapolam a vida familiar a tormenta que acomete estas pessoas comparece no convívio com os outros pela maldade, pela perseguição, pela inveja, pela calúnia, pela desunião dentre outros atributos destrutivos que minam e adoecem os vínculos que estabeleceram e a todos que ali se encontram ao seu redor.
Cheguei ao final de minhas reflexões pressionada pelo sono. Concluo que não vale a pena nos aproximarmos e nem permanecermos convivendo com pessoas assim atormentadas pela dor da alma. É inútil pensarmos que podemos mudar estas pessoas. Fazer com que ela enxergue que a vida é passageira e precisamos vivê-la da melhor maneira que pudermos ou seja com
tranqüilidade e sabedoria para enfrentarmos as tormentas e não fazermos dela uma forma de vida e nem tão pouco uma forma de ser feliz . A mudança ocorre quando a consciência diz à aquela pessoa que  a solidão é o destino de quem não busca superar a dor da alma. 

Não vale a pena perder o sono pensando sobre estas pessoas . Vale muito mais dormir e sonhar  ......
Esta é a mensagem que me veio através da conversa com a senhora que encontrei na fila do banco e que ofereço para os meus leitores.

                                    Picasso 3061~The-Metamorphosis-of-Narcissus-c-1937-Posters

Um comentário:

Unknown disse...

Ivany,
Sou seu seguidor de primeira hora e adoro ler os seus escritos.
Este está demais. Bate muito com meus pensamentos. Eu tenho a convicção de que de nada vale pensar em mudar alguém, se este não quer a mudança ou não a quer por ser determinada pessoa o agente da inspiração. Acho que se sofre menos quando se dá ao outro o espelho limpo, para que ele se mire, perceba suas imperfeições (ou não) e busque suas formas de mudança, que podem incluir um pedido de ajuda.
Daí, a paz pode vir, como um primeiro passo para a felicidade.
Sugiro que escreva mais, nesta direção; pois vai agradar a muitos dos seus leitores, sejam eles assíduos ou ocasionais.
Muito boa Sorte!